Como a arte inspirou a matemática (e vice-versa) no estudo de figuras geométricas

Alexandre Camanho |
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No século 19, o ale-mão Karl Weierstrass (1815-1897)
conseguiu seu título de doutor honoris causa por desenvolver uma série
de ferramentas matemáticas e dar maior rigor às provas de teoremas. Ele
já tinha passado dos 40 anos, idade considerada tardia para descobertas
matemáticas, e lecionava havia 14 anos no ensino secundário quando
publicou seus trabalhos e foi reconhecido como um grande talento
matemático. Logo em seguida, recebeu vários convites e escolheu lecionar
na Universidade de Berlim. Sua fama de excelente professor atraía
estudantes de todas as partes do mundo.
Os trabalhos de Weierstrass foram aplicados muito tempo
depois pelo matemático brasileiro Celso Costa, da Universidade Federal
Fluminense, que tentava descobrir em seu doutorado uma nova figura
geométrica. Para chegar a ela, usou os estudos, particularmente funções,
desenvolvidas pelo matemático alemão. O que Costa buscava era algo que
vinha movimentando pesquisadores de todo o mundo por 200 anos: descrever
matematicamente a forma de novas superfícies mínimas.
A idéia surgiu no começo dos anos 80, quando o
brasileiro estava no cinema. "Eu assistia a um filme sobre escola de
samba e um sambista desfilava com um bizarro chapéu de três abas.
Naquele momento tive a inspiração crucial e final do modo como a figura
geométrica da superfície que eu buscava se apresentava no espaço." No
século 18, quando tiveram início as pesquisas sobre esse tema, foram
descritas três superfícies mínimas: o plano, o catenóide e o helicóide
(veja ilustração acima). Depois disso, ninguém descobriu mais nenhuma.
Alexandre Camanho |
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O material utilizado nos primeiros trabalhos era a
película de sabão, que acabou sendo útil para a construção da teoria
matemática sobre essas superfícies.
E aquela mistura de água com sabão e a argola que se
usa para soltar bolhas no ar ainda pode ser usada para explicar o que
são superfícies mínimas. A película que se forma na argola antes que ela
seja movimentada no ar é a primeira das superfícies mínimas: o plano. A
segunda (catenóide) é obtida quando assopramos a argola e a película
forma um bojo, antes de chegar a se fechar em bola. Devemos imaginar que
a borda inicial formada pela argola seja mantida, ou seja, a superfície
é limitada pelas duas bordas e vazada. A terceira (helicóide) é obtida
se deformarmos a argola em forma de hélice. As formas que a película vai
adquirir no espaço são as superfícies mínimas, ou as superfícies de
menor área que cobre um determinado bordo (nesse caso, a argola).
A nova superfície descoberta em 1982 por Costa, (figura
ao lado) que levou seu nome, teve grande repercussão no mundo da
matemática por resolver um problema antigo. Muitos matemáticos tentavam
provar a existência (ou não) de superfícies como a do brasileiro. Além
disso, a partir dela, foi possível desenvolver técnicas que permitem
hoje a solução de muitos outros problemas na área de superfícies
mínimas. O trabalho acabou dando origem a uma série de pesquisas que
resultaram na descoberta de novas superfícies, teoremas e novos
problemas matemáticos.
Para cada superfície mínima existem equações que geram o
objeto em três dimensões. Para as três primeiras figuras descobertas no
século 18, as equações eram relativamente simples e facilmente
relacionáveis com o objeto em 3D. Mas as equações da superfície Costa já
apresentam muitas complicações para a visualização da figura em três
dimensões. Então, a partir da descoberta do brasileiro, Hoffman e Meeks,
dois americanos da Universidade de Massachusetts, fizeram a imagem
computacional exata da superfície. Posteriormente, a descoberta do
brasileiro acabou influenciando também o desenvolvimento da computação
gráfica.
A superfície Costa tem a forma de um toro - como as
bóias do tipo pneu que os banhistas usam para flutuar nas piscinas - com
três buracos. Depois de visualizada por computador, foi a vez dessa
curiosa superfície geométrica inspirar vários artistas pelo mundo, que
acabaram ganhando prêmios com esculturas da superfície Costa, seja em
material permanente - metal ou concreto - ou em blocos de gelo nos
festivais de inverno dos países frios.
As superfícies mínimas descobertas até o século 18
Até a descoberta de Costa, além do plano, as outras duas superfícies
descobertas e provadas matematicamente como sendo mínimas eram o
catenóide e o helicóide. Elas são superfícies completamente mergulhadas
no espaço tridimensional e não têm linhas delimitadoras que fazem
interseção entre si.
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Pesquisa realizada no site:
http://revistagalileu.globo.com
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