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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Coisas que eu queria saber aos 21: Marilda Sotomayor

 Para professora da USP, carreira acadêmica oferece dinamismo, diversificação intelectual e gratificação

"Aos 21 anos estava cursando licenciatura em Matemática na Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras da antiga Universidade do Brasil (hoje UFRJ). Queria ser professora de matemática de curso secundário, como a minha mãe, que despertou em mim o gosto por esta disciplina quando eu ainda era criança e disputava com seus alunos a resolução de problemas que ela selecionava dos livros do Ary Quintela.
'Escrevi com Alvin Roth um livro que atraiu economistas para um tema antes restrito a matemáticos' - Hélvio Romero/Estadão

'Escrevi com Alvin Roth um livro que atraiu economistas para um tema antes restrito a matemáticos'
Estes livros, que eram muito respeitados e temidos pelos estudantes, eram adotados no ginásio que cursei da Escola Normal Carmela Dutra, onde me formei em professora primária.
Tudo ia bem até que, ao se aproximar o fim do curso, as conversas com os colegas sobre as possibilidades de profissão que a licenciatura proporcionava me fizeram despertar para uma realidade pouco animadora. Parecia que todo aquele conhecimento que adquirira na faculdade estaria fadado ao esquecimento, visto que deveria ensinar somente o que aprendera no curso secundário. Era angustiante imaginar parar de estudar e não ter mais o desafio de resolver problemas novos de matemática!
Foi aí então que, através de uma palestra proferida a convite de nossa turma pelo professor Lindolpho de Carvalho Dias sobre a carreira de matemático, tomei conhecimento de que existia o Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), do qual o professor Lindolpho era diretor, e que formava mestres e doutores em Matemática.
Um mundo novo, no qual eu parecia me encaixar bem, estava abrindo suas portas para mim. Quando terminei a graduação, ingressei no Impa e fiz os cursos de iniciação científica para complementar o meu curso de licenciatura, e logo depois fui aceita no mestrado em Matemática, sob a orientação do professor Elon Lages Lima, notável, entre outros méritos, por sua excelente e numerosa obra bibliográfica matemática de penetração em todos os níveis, incluindo a pesquisa.
Graças ao trabalho pioneiro de alguns poucos pesquisadores, entre os quais estava Mauricio Peixoto, lenda viva da matemática brasileira, o Impa já estava entre os melhores centros de pesquisa em matemática da América Latina. Nessa época, o prestigioso título de mestre em Matemática conferido pela instituição já era disputado por professores de diversas universidades brasileiras.
Ainda no início do mestrado fui contratada pelo Departamento de Matemática da PUC-Rio, onde trabalhei até 1993, quando me mudei para o Departamento de Economia da UFRJ. Em 1997 vim para o Departamento de Economia da USP, onde estou até a presente data.
No meu doutorado, com título outorgado pelo Departamento de Matemática da PUC-Rio, mas realizado na sua maior parte no Impa, fui orientada por Jack Schechtman. A idéia era fazer uma tese em Processos Estocásticos, mas, dizendo querer testar a minha habilidade em tratar com a Economia Matemática, Jack me propôs um problema em Crescimento Econômico. Era uma extensão do problema abordado por ele em sua tese de doutorado, realizado na Universidade da Califórnia em Berkeley, sob a orientação do grande economista matemático David Gale (1921–2008).
Tendo sido bem sucedida, Jack me convenceu a transformar aquele problema na minha tese.
Este trabalho foi aceito para publicação no Journal of Economic Theory, o que me animou a seguir com a carreira científica. Em janeiro de 1983, com uma bolsa de pós-doutorado do CNPq, rumei para Berkeley, esperando aprimorar, com Gale, meus conhecimentos sobre Crescimento Econômico. Porém, para meu desapontamento, Gale não estava mais interessado nesta área. Estava envolvido com a Teoria dos Mercados de Matching, o ramo da Teoria dos Jogos que está sendo homenageado este ano através da premiação, com o Nobel de Economia, dos matemáticos Alvin Roth e Lloyd Shapley. Gale e Shapley escreveram o artigo seminal neste assunto em 1962. Shapley foi premiado por ter sido um dos fundadores da teoria, enquanto Roth, por ter liderado as aplicações aos mercados de matching do mundo real.
Voltei, então, o meu interesse para a nova teoria, dando início a uma profícua colaboração com Gale, que gerou vários artigos em coautoria. Mas foi com Alvin Roth, então professor da Universidade de Pittsburgh, que escrevi o mais relevante deles. Trata-se do livro Two-sided matching. A study in game-theoretic modeling and analysis, publicado em 1990 pela Cambridge University Press. Este livro, que compila toda a teoria de matching existente até o ano de sua publicação, teve o mérito de atrair a atenção de um grande número de economistas para uma área de pesquisas que era, até aquela época, de interesse quase exclusivo de matemáticos. Devido a ele, eu e Roth recebemos o Lanchester Prize de 1990, um dos prêmios mais cobiçados na área de Pesquisa Operacional, e outorgado pela Operation Research Society of America. Em 2010 fomos homenageados com um congresso intitulado Roth and Sotomayor: Twenty years after, organizado na Universidade Duke, para celebrar os 20 anos de publicação do livro.
Tenho ensinado regularmente Teoria dos Jogos, orientado alunos em Desenho de Mercados, organizado congressos e escrito artigos em matching, que me renderam vários prêmios e honrarias acadêmicas - a mais prestigiosa foi ter sido eleita fellow da Econometric Society em 2003.
Para o jovem que se defronta com o problema de escolher a carreira, diria que, como foi no meu caso, a vida acadêmica é uma opção que vale a pena. O trabalho na universidade oferece um ambiente ímpar: dinâmico, intelectualmente diversificado e estimulante, além de ser uma atividade que pode ser extremamente gratificante, na medida em que promove a interação com jovens estudantes e permite o contato com especialistas de diversas áreas do conhecimento."

Pesquisa realizada no site:
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Medalhista de ouro vira exemplo em cidade do interior do Piauí

 Sandoel Vieira teve destaque na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas

É ele quem melhor traduz o termo “efeito multiplicador”. A expressão é usada pelos professores da Escola Estadual Augustinho Brandão quando mencionam alunos que devem ser vistos como modelo. E coube a Sandoel Vieira, de 19 anos, carregar esse adjetivo desde 2006, quando se tornou o primeiro aluno da escola a ganhar uma medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
Sandoel, de 19 anos, já faz aulas de mestrado na UFPI - Davi Lira/Estadão

Sandoel, de 19 anos, já faz aulas de mestrado na UFPI
“Sandoel é referência para todo mundo”, conta a irmã, Samara Brito, de 17 anos, aluna do 3.º ano na mesma escola onde o irmão estudou. Em 2011, o rapaz deixou Cocal dos Alves e partiu para Teresina. “Um dos primeiros objetivos que tracei, o de entrar na faculdade, já consegui alcançar. Agora, já estou indo para o 4.º período de Matemática na UFPI”, diz.
A desenvoltura de Sandoel na área de exatas fez com que fosse incentivado a frequentar disciplinas do mestrado. Aconselhado pelo professor João Xavier da Cruz Neto – seu orientador desde a primeira vitória na olimpíada –, Sandoel aceitou o desafio de cursar o mestrado (como ouvinte) junto com a graduação.
“Ele foi um dos selecionados entre mais de 140 alunos que disputavam as 20 vagas do programa de pós-graduação. E da turma todos já o consideram o melhor do grupo”, diz o conterrâneo Vitaliano Amaral, de 29 anos, aluno do mestrado.
“Ele não é bom, ele é muito bom”, diz o professor Antonio Cardoso do Amaral, seu tutor. E esses incentivos dos professores foram fundamentais para a trajetória trilhada pelo filho da dona de casa Francisca Brito. “Eles sempre apoiaram muito e ele sempre teve vontade de estudar”, diz Francisca.
De Cocal dos Alves, restam as saudades do pai, da mãe e das três irmãs. “A distância sempre traz saudades, mas não pretendo voltar. Quero seguir carreira acadêmica e me tornar um grande pesquisador”, promete. 

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Início do conteúdo Sucesso de escola do Piauí em vestibular e olimpíadas surpreende

'Devemos trabalhar como olheiros que buscam os talentos dos alunos', diz Amaral - Davi Lira/Estadão

Augustinho Brandão já conquistou mais de 20 medalhas em competição de matemática

 
Devemos trabalhar como olheiros que buscam os talentos dos alunos', diz Amaral
Com menos de dez anos de existência, a escola Augustinho Brandão já acumula vários prêmios em competições. Nas Olimpíadas de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), por exemplo, conquistou mais de 20 medalhas – o que faz da instituição uma das mais premiadas do Brasil.
“Conhecemos o caso de sucesso de Cocal dos Alves desde 2005. E a origem desse êxito tem muito a ver com as olimpíadas”, afirma César Camacho, diretor-geral do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que organiza o evento.
“Proporcionalmente, em relação ao número de habitantes, somos a cidade que mais medalhas conquistou na Obmep”, diz o coordenador pedagógico da escola, Darckson Machado.
Foi com a preparação para as olimpíadas, posterior sistematização de estudos, atenção especial aos alunos e trabalho focado na resolução de dúvidas, que a escola passou a ter uma boa gestão. Mas parte desse desempenho – sempre relacionado ao trabalho do professor de matemática Antônio Cardoso do Amaral – pode ter sido conquistado sob um ambiente de forte pressão e competição entre os alunos, afirma Regina Rocha, que trabalhou como psicóloga na cidade. Ela diz que, em 2010, algumas mães pediram que Regina ajudasse a cuidar dos filhos, que sofriam com excesso de estudo.
Para o estudante Izael de Brito Araújo, de 16 anos, do 1.º ano, a alegação não faz sentido. “O que existe é uma competição saudável. Se um conseguiu, por que eu não posso?”, diz. A escola também é campeã em aprovação nos vestibulares. As taxas de aprovação nunca foram menores que 70%. Em 2010, todos os alunos que prestaram vestibular entraram na UFPI.
Orientações
À pedido do Estado, o professor Amaral destacou algumas sugestões para que quaisquer escolas públicas possa vir a ter um bom desempenho nas olimpíadas de matemática. Repassamos as orientações na íntegra:
1) TRATAR O ASSUNTO "OLIMPÍADA DE MATEMÁTICA" COM CUIDADO E COERÊNCIA - Não esquecer que participar de uma olimpíada implica entrar em uma competição. Portanto, é preciso ficar bem atento para que isso seja feito através do exercício do espírito de competição que cada indvíduo possui, ou seja, sabendo que  haverá ganhadores e não ganhadores. Além disso, é importante eleger como objetivo maior o aprendizado que fica através das preparações e estudo em grupo. Nunca obrigar a participação dos alunos mas sim, convidá-los. Ter bastante cuidado na divulgação de notas de classificação também é outro ponto fundamental.
2) MOSTRAR AS VANTAGENS DE PARTICIPAR DE OLIMPÍADAS - Ganhar medalhas ou menções honrosas em competições olímpicas significa ser um bom aluno, ao menos naquilo que ganhou. Por conta disso, o governo incentiva estes estudantes através de bolsas e participação em programas de aprimoramento para ajudá-los a seguir carreira científica. É muito importante que o professor conheça todas as vantagens que uma competição olímpica oferece para levar aos seus alunos. Mostrar ou ter exemplos de estudantes bem sucedidos que tiveram participação em olimpíadas quando na educação básica, é uma boa estratégia. Insitir que é indiferente se o estudante mora no interior ou se ele vive na cidade grande. O importante é estudar bastante.
3) DAR ASSISTÊNCIA AOS INTERESSADOS - Uma vez conquistado uma turma ou um grupo de alunos para a participação em competições olímpicas, o maior desafio é ter uma boa preparação para as aulas de treino. Pesquisar, conhecer provas de outras edições e bancos de questões são os menores atributos para a condução de boas aulas. Dependendo do ambiente escolar e do grupo de alunos, tudo isso pode ser feito em conjunto.
4) MOTIVAR E PARTICIPAR PARA ATINGIR METAS - Acredita-se que o envolvimento de boa parte dos alunos de uma escola em competições pode servir para aumentar o nível de aprendizado entre todos, principalmente porque motiva o estudo de grupo e isso gera um efeito multiplicativo de conhecimento. Um grande exemplo disso é Cocal dos Alves, um município no interior do Piauí. Portanto, é possível que o projeto de preparação para as olimpíadas de matemática esteja dentro da proposta pedagógica da escola como uma importante ferramenta para melhorar os indicadores de rendimento escolar.

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