Espera-se destacar um ponto fundamental: o fato de a matemática ser
uma linguagem mais fina e precisa que a linguagem natural. A
multiplicidade de enfoques dessa ação chamada prática de ensino,
leva-nos a buscar a melhor maneira de atingir determinado fim e visar ao
aperfeiçoamento moral e político dos praticantes da ação (agente,
professor, paciente e aluno) mediante o manejo de conhecimentos gerais.
Embora exista uma distinção entre uma ação modificadora da realidade
social e material e uma ação puramente cognitiva, não há erro em
considerar ação, em seu sentido amplo, a estratégia própria de nossa
espécie para compactar a realidade. Portanto, colher um fruto, construir
um açude ou enviar uma carta a alguém são ações, assim como o é ação o
puro meditar, tornando-se alegre ou triste sobre a carta recebida, ou o
ato de observar o açude e criar expectativas sobre ele, crer que o mundo
tem muita água, ou saborear o fruto – reconhecendo-o como caju ou uva. A
relação entre uma ação puramente cognitiva (por exemplo, a
aprendizagem, o pensar) e uma ação modificadora da realidade (por
exemplo, praticar o que aprendemos, o saber) gera uma relação dialética
permanente. Aí reside a diferença essencial entre a aprendizagem da
linguagem e do ler e do escrever e a aprendizagem do contar e da
aritmética.
Assim, não é de se admirar a importância que é dada, desde os
primórdios de nossa civilização, à Matemática e à sua posição
privilegiada em todos os sistemas educacionais de que se tem notícia. No
entanto, destaca-se também e identifica-se facilmente, uma Matemática
universal, independentemente de fatores como língua, geografia ou
economia. Diz-se que a Matemática de ricos e pobres é a mesma! Aí talvez
resida o ponto mais vulnerável da aprendizagem matemática como
praticada hoje. O problema dificílimo, da transmissão cultural, leva-nos
a crer mais e mais numa Matemática diferenciada pelo seu contexto
sociocultural.
É aí que reside a essência da conceituação de planejamento, que
possibilita a ação, especificamente no caso da ação pedagógica. Na
prática da aprendizagem matemática, isto se refere naturalmente à
incorporação, em todas as disciplinas e de maneira permanente, do
componente crítico, levando-nos a questionar a cada instante a nossa
prática e os métodos utilizados. Isso fica mais evidente se atentarmos
um pouco mais ao conceito de transmissão cultural, o que já foi referido
acima. O conceito de cultura é muito amplo e inclui a aglomeração de
atitudes e interesses próprios de uma faixa etária, de um grupo
sociocultural diferenciado, que, como tal estão sujeitos a todas as
peculiaridades que se aplicam à educação nesse caso e, por isso, exigem a
criação da flexibilidade da ação pedagógica adequada. No caso
especifico da aprendizagem matemática, não há outra alternativa, além de
incorporar aos programas o estudo da linguagem matemática nas escolas –
e, com isso, empenhar-se para mudar a idéia de que a Matemática é
difícil ou enfadonha. “É vergonhoso alguém falar que não sabe ler ou
escrever, mas o mesmo não ocorre quando o que está em questão é fazer
contas simples de cabeça”. As pessoas dizem sem constrangimento que não
sabem nada. Logo se percebe que a cultura de desvalorização do
raciocínio lógico precisa mudar, visto que há vários estudos em prática
de aprendizagem matemática exigindo, naturalmente, a liberação de alguns
preconceitos sobre a própria Matemática.
Repousando num alicerce aparentemente sólido - a Matemática como
ciência - a aprendizagem matemática tem refletido essa solidez, em
alguns casos de forma pedante e refletindo desde a Antiguidade
greco-romana, o selecionador das melhores mentes, até o ponto de a
Matemática se tornar, como disciplina, a maior responsável pela deserção
escolar, por inúmeras frustrações e em última instância pela manutenção
de uma estratificação social aceitável, ou pelo menos injusta.
Seria fundamental, no importante processo de treinamento e formação
de professores de Matemática, possibilitar um reconhecimento de que a
Matemática é, efetivamente, uma disciplina dinâmica e a rigor reage,
como qualquer outra manifestação cultural, a fatos socioculturais e, por
conseguinte, econômicos. É claro que, dificilmente se chegará a uma
melhoria da aprendizagem matemática sem: 1º - conceituar melhoria; 2º -
reconhecer que o processo ensino-aprendizagem é, na sua essência, apenas
aprendizagem.
Notadamente, identifica-se a aprendizagem matemática propondo-se
entender a questão fundamental que colocada acima, deve ser encontrada
num contexto sociocultural, procurando situar o aluno no ambiente de que
ele é parte, dando lhe instrumentos para ser um indivíduo atuante e
guiado pelo momento sociocultural que está vivendo. Uma tentativa de
analisar algumas situações reais, e procurar, de forma desinibida e
“desestruturada”, penetrar nessas situações, e depois utilizar
conhecimentos especializados, específicos para detalhes da análise, é a
estratégia de ensino integrado e global, no qual a Matemática se insere
como uma linguagem, como um instrumento mais fino do que a linguagem
usual para descrever fenômenos naturais.
Há muitas questões relativas a fenômenos naturais ou à vida em
sociedade que podem ser respondidas com a ajuda da Matemática, e de
pequenos conhecimentos não-matemáticos, por exemplo, de física,
biologia, de comércio, etc. Basta saber um pouco de física, biologia,
comércio e, a partir daí, deixar que a Matemática faça o resto. A
percepção da noção da Matemática mista enfatiza o poder explicativo da
Matemática.
O fato de que se ensine Matemática na escola responde a uma
necessidade ao mesmo tempo individual e social: cada um deve saber um
pouco de Matemática para poder resolver, ou quando muito reconhecer, os
problemas com os quais se depara na convivência com os demais. Foge-se,
assim, de um reducionismo que leva a considerar que a matemática e feita
para ser ensinada e aprendida, que o ensino formal e imprescindível em
toda aprendizagem Matemática, ou seja, a única razão pela qual se
aprende matemática e porque ela e ensinada na escola.
Autora:Ronan Fernandes de Arruda
Pesquisa realizada no site:
http://www.educacional.com.br
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