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quinta-feira, 8 de março de 2012

As mulheres na Matemática

  Durante séculos, num mundo de dominação essencialmente masculina - pelo menos, até pouco tempo - a participação da mulher foi restringida a ponto de ser-lhes proibido o acesso ao universo intelectual. Principalmente no campo científico.
Na Matemática, por exemplo, a maioria das histórias que se contam são sobre matemáticos. Todos os teoremas que conhecemos em nível de Ensinos Fundamental e Médio têm nomes de matemáticos, e dai por diante num etc. e tal inteiramente masculino.
  Em vista destes fatos é natural que nossos estudantes, e nós mesmos, nos perguntemos: sendo a Matemática uma das Ciências mais antigas da humanidade, será que só homens se dedicaram a ela? Será que nenhuma mulher destacou-se em Matemática a ponto de ter seu nome registrado na História? Ou será que o pensamento matemático, com sua abstração e lógica, seja apenas compatível com o raciocínio masculino, afastando as mulheres dessa área?
  Nosso objetivo aqui é mostrar que as respostas a essas perguntas são negativas. Vamos tentar, diante das nossas possibilidades, resgatar um pouco da história feminina na Matemática. Detalharemos alguns fatos da biografia de mulheres intrépidas e notáveis que, vencendo preconceitos e obstáculos, se destacaram e tiveram seus nomes gravados na história dessa nossa fascinante Ciência, indo onde poucos homens foram capazes de chegar.

ANTIGUIDADE 

Hipatia de Alexandria ( ou Hipácia de Alexandria)

  A primeira mulher a nos chegar registro de ter trabalhado e escrito algum texto em Matemática foi a grega Hipatia. Ela nasceu em Alexandria por volta do ano 370. Mesmo já entrando em sua fase de declínio, Alexandria era famosa por seu Museu e por sua Biblioteca, que reuniam as mais importantes obras científi-cas daquela época. A cidade cosmopolita ainda era um caldeirão efervescente de idéias científicas.
  Foi nesse universo que Hipatia nasceu e foi criada. Da sua formação, sa-be-se apenas que ela foi educada por seu pai, Teon de Alexandria, que traba-lhava no Museu. Ele ficou conhecido por seus comentários sobre o Almagesto de Ptolomeu, e de uma edição revista dos Elementos de Euclides que serviu de base às edições posteriores dessa obra. Apesar do fato de que nenhum frag-mento desses escritos terem sido preservados, parece que ela deve ter ajudado seu pai nesse trabalho. Acredita-se também que ela própria escreveu comentá-rios sobre As Secções Cônicas de Apolônio, sobre a Aritmética de Diofanto e sobre o Almagesto. Portanto, sobre toda pesquisa Matemática de ponta de seu tempo. Ela também inventou alguns aparelhos mecânicos e escreveu uma tábua de Astronomia.
Hipatia destacou-se por sua beleza, eloqüência e cultura. Estudou Platão, Aristóteles e outros filósofos importantes, tornando-se ela mesma uma deles. Como de praxe aos filósofos daquela época, ela entrava em discussões filosófi-cas acirradas com seus interlocutores nas praças do centro da cidade, expondo suas idéias, sem receio algum da presença de quem quer que fosse. Chegou a ser diretora da escola Neo-platônica de Alexandria, ministrou aulas no Museu de Alexandria e eram muitos os que vinham de longe e se encantavam com os seus ensinamentos. Seu aluno mais célebre foi o filósofo Sinesius de Cirene. Entre-tanto, sua filosofia pagã (séculos depois ainda seria acusada de bruxaria!) e seu prestígio suscitaram a inveja de seus opositores.
  O fim dessa mulher foi trágico e triste. Por intermédio de Sinesius, Hipatia tornou-seíntima de Orestes, Prefeito de Alexandria. O poder político e religioso de Alexandria estava em disputa entre Orestes, e São Cirilo, O Infame, Patriarca de Alexandria. Hipatia foi acusada de aconselhar Orestes a não se reconciliar com Cirilo. Isto foi o suficiente para incitar a fúria de uma turba de cristãos fanáticos. Um dia ao chegar em casa, Hipatia foi surpreendida por esta turba enfure-cida que a atacou, despindo-a, matando-a, esquartejando seu corpo e depois queimando os pedaços que se espalharam pelas ruas.
  Com a trágica morte de Hipatia em 415- possivelmente a única data precisa que se conhece da sua vida - muitos também consideram que termina com ela a glo-riosa fase da Matemática Alexandrina e de toda Matemática Grega.
  Após Hipatia, a Matemática na Europa Ocidental entraria numa estagna-ção, onde nada mais seria produzido por um período mil anos! No entanto, o nome dessa mulher sobreviveu, e no decorrer do tempo, desde sua morte, sua vida tem sido citada e biografada por vários autores.

DO SÉCULO V AO SÉCULO XVIII

  Após Hipatia existe um vazio de doze séculos onde o nome de nenhuma mulher matemática é registrado.
  Convém ressaltar, entretanto, que durante este período, mesmo com i-números preconceitos, várias mulheres conseguiram se dedicar à cultura e ao intelecto. Nas Cortes eram admiradas as pessoas que possuíam cultura literária, musical, filosófica, científica, etc. Leve-se em conta que nas reuniões culturais da alta sociedade da época, uma mulher exibir algum conhecimento em Álgebra, Geometria ou em qualquer recente invenção matemática, chegava a ter um cer-to sabor de esnobismo e excentricidade.
  Para termos idéia do interesse de algumas nobres pela Matemática, va-mos citar algumas delas e alguns de seus renomados professores (coisa de dar inveja a muitos cientistas de hoje): Viéte ensinou a Catarina de Partheanay, Princesa de Rohan-Soubise e assegurava ser ela uma dos seus melhores alu-nos; Descartes foi para a Corte sueca ser professor particular de filosofia da Ra-inha Cristina (mulher excepcional e extravagante para a sua época); já Leibniz, ensinou a Sofia, eleitora de Hannover e sua filha, Sofia Carlota, Rainha da Prús-sia e mãe de Frederico, O Grande.
Várias mulheres também deram sua parcela de colaboração se dedican-do a fazer os cálculos que a Ciência daquela época demandava, principalmente os de Astronomia, que eram muito laboriosos e exigiam bastante tempo.

SÉCULO XVIII

  Neste século, a Ciência toma um novo rumo, baseada no Cálculo que Newton e Leibniz inventaram no final do século anterior. Já se tinha uma manei-ra mais rigorosa e eficaz de explicar vários fenômenos da natureza, baseada nos conceitos de infinitésimos, derivadas e integrais, conceitos esses, que cada vez mais se difundiam e se sofisticavam.

Marquesa de Châtelet 

   No começo do século XVIII nascia Gabrielle-Émile Le Tonnelier de Bre-teuil (17 de Dezembro de 1706) que mais tarde se tornaria conhecida como aMarquesa de Châtelet e teria seu papel na divulgação e, conseqüentemente, no desenvolvimento do Cálculo Newtoniano.
Gabrielle teve na infância uma educação requintada. Com o incentivo do pai, homem rico e poderoso, aprendeu Literatura, Música, várias línguas e também Matemática, que se tornaria seu maior interesse. Aos 19 anos ela casou-se com Florent-Claude, Marquês de Châtelet e Conde de Lemont, governador da Cidade de Semur-en-Auxois. Após cinco anos, o casal vai morar em Paris, onde Gabriel-le desfrutou de uma vida frívola nos saraus da alta sociedade parisiense. Esse período só terminaria aos 27 anos de idade, quando ela decide dedicar-se inte-gralmente à Matemática.
  Entre seus amantes, figuram o matemático Maupertius, que era defensor da Física Newtoniana em detrimento à Cartesiana, e de quem recebeu lições de Matemática, e o mais famoso dentre eles: Voltaire, com o qual ficaria ligada pelo resto de sua vida. O Marquês, por sinal, tinha imenso orgulho em ter persona-gem tão eminente como amante oficial de sua esposa. Quando visitava sua ca-sa, já que passava grande parte do tempo ausente, viajando para tratar de as-suntos militares, o Marquês deliciava-se com as discussões científicas e filosófi-cas travadas por Voltaire e a Marquesa durante os jantares.
  A ligação entre a Marquesa e Voltaire foi de grande intensidade intelectual e amorosa, a ponto de decidirem viver isolados durante anos em Cirey, no interi-or da França, onde Voltaire refugiava-se das perseguições que sofria devido aos seus escritos. Diante das inúmeras atividades filosóficas e científicas que o ca-sal promovia, sua residência em Cirey tornou-se um dos mais badalados centros de atividades intelectuais francesas da época, como também, palco de inúmeras fofocas maliciosas.
Gabrielle escreveu vários artigos científicos. Colaborou com Voltaire no seu Elementos da Física Newtoniana. Escreveu vários ensaios sobre Ciência e Filosofia e em 1740, um livro de inspiração na Física leibniziana “As instituições da Física”. Este livro que teve quatro edições e era dedicado à educação de seu filho. Foi aclamado como uma “extraordinária e lúcida exposição da Física de Leibniz”. O livro abriu espaço para várias discussões e debates sobre os novos conceitos da Física que ora se desenvolviam. Entretanto, Voltaire, como um ar-dente defensor de Física Newtoniana, a dissuadiu de seguir os caminhos de Leibniz, convencendo-a a retomar as trilhas das idéias de Newton.
  Em 1745 ela começa a tradução do Latim para o Francês do Principia Mathematica de Newton, obra magna do pensamento científico newtoniano. A Marquesa continuaria este trabalho até sua morte, revisando e acrescentando comentários e adendos à sua tradução. Apenas em 1759, é que esta tradução foi publicada integralmente e teve um prefácio escrito por Voltaire. Até nossos dias, o livro permanece como a única tradução em língua francesa do Principia.
Gabrielle morre em 1749, aos 42 anos, devido talvez ao parto de uma fi-lha, fruto de seu relacionamento com um jovem amante que acabara de conhe-cer.
  Apesar de sua vida pessoal ter sido alvo de vários comentários maldosos e de  sua obra científica não ser original, Chatêlet, com seu trabalho de tradução e comentários, teve um papel importantíssimo na consolidação da Física newtoniana no século XVIII

Maria Gaetana Agnesi

  Contemporânea da Marquesa, mas de uma vida pessoal totalmente dife-rente da dela, Maria Gaetana Agnesi, seria sem dúvida, a primeira mulher ma-temática a ter notoriedade e reconhecimento oficial no meio científico de sua é-poca.
Agnesi nasceu em Milão, no ano de 1718. Garota precoce e inteligente, teve uma educação esmerada planejada por seu pai, professor de Matemática na Universidade de Bolonha, que logo reconheceu a prodigiosidade da filha. Ele introduziu sua filha nas reuniões acadêmicas que organizava, onde se encontra-vam acadêmicos, cientistas e intelectuais renomados. Mesmo de personalidade recatada e tímida, ela discutia Ciência e Filosofia com seus convidados. As dis-cussões nessas reuniões, que estavam em moda naquela época, se davam em Latim, mas se algum estrangeiro dirigia-se a ela, prontamente respondia-lhe na língua do interlocutor. Ela era uma poliglota fluente. Já aos onze anos, falava La-tim e Grego perfeitamente, além de Hebraico, Francês, Alemão e Espanhol.
  Sua reputação como debatedora, seu conhecimento sobre vários assun-tos e a clareza de suas idéias logo lhe deram fama. Agnesi conhecia a Matemá-tica moderna de sua época. Tinha estudado os trabalhos de Newton, Leibniz, Euler, dos irmãos Bernoulli, de Fermat e de Descartes, o que sem dúvida, lhe garantia respeito e lhe dava notoriedade. Nas reuniões, além de Matemática, ela discutia Física, Lógica, Ontologia, Mecânica, Hidromecânica, Elasticidade, Me-cânica Celeste, Gravitação Universal, Química, Botânica, Zoologia e Mineralogi-a.
  Aos 20 anos ela publica um tratado em Latim, “Propositiones Philosophi-cae”, onde insere várias de suas teses e defende a educação superior para mu-lheres. Nesse período decide dedicar-se a vida religiosa e entrar para uma Or-dem. Com a oposição de seu pai a essas idéias, o máximo que consegue é con-vencê-lo de não mais freqüentar as reuniões acadêmicas que ele organizava, onde ela era exibida como uma prodígio intectual. Outras de suas reivindicacões aceitas foi a de ir à igreja quando quisesse, vestir-se modestamente e não mais freqüentar teatros, festas, etc. Na verdade, seu ingresso na vida religiosa só se daria anos mais tarde, após o falecimento de seu pai, quando ela definitivamente abandona a Ciência e dedica-se totalmente a religião. Entretanto, antes dessa decisão, ela passaria 10 anos de sua vida dedicados ao estudo da Matemática e escreveria o que se tornaria a obra principal de sua produção intelectual, a Insti-tuzioni Analitiche ad uso della Gioventú. Este foi um dos primeiros textos de Cál-culo escrito de forma didática e com o objetivo específico de ensinar. Continha grande parte da Matemática moderna daquela época, que estava apenas em ní-vel de conhecimento e entendimento para os grandes matemáticos europeus. Agnesi ofereceu este trabalho a Imperatriz Maria Tereza da Áustria, de quem re-cebeu um anel de diamante e uma carta de agradecimento dentro de uma caixa de cristal incrustada de diamantes. A obra consistia em quatro grandes volumes onde eram apresentados sistematicamente tópicos de Álgebra, Geometria Analí-tica, Cálculo e Equações Diferenciais. Os volumes somavam mais de 1000 pá-ginas que foram publicados em 1748 e obteve aclamação imediata. Um comitê da Academia de Ciência francesa encarregado de avaliar a obra, declarou na sessão de 6 de Dezembro de 1749: ‘Este trabalho caracteriza-se por sua organi-zação cuidadosa, por sua clareza e precisão. Não há nenhum
outro livro, em qualquer língua, que possa permitir ao leitor penetrar tão profunda ou rapidamente nos conceitos fundamentais da Análise. Nós o consideramos como o mais completo e o melhor em seu gênero’.
  Em 1775 esse trabalho era publicado em Francês por decisão de uma comissão da Academia Real de Ciências, da qual participavam os matemáticos d’Alambert e Vandermonde.
Um professor de Matemática da Universidade de Cambrige, Jonh Calson, apesar de sua idade avançada, decidiu a largo custo aprender italiano apenas para traduzir o Instituizione para o Inglês, com o único intuito de que “a juventu-de inglesa pudesse se beneficiar desta obra, tanto quanto a italiana”.
  A notoriedade de Agnesi espalhou-se rapidamente. Embora não fosse aceita na Academia francesa, já que nem poderia ser indicada por ser mulher, a Academia Bolonhesa de Ciência a elegeu como membro. Em 1749, o Papa Be-nedito XIV conferiu-lhe uma medalha de ouro e uma grinalda de flores de ouro com pedras preciosas pela publicação de seu livro e a indicou como professora de Matemática e Filosofia Natual da Universidade da Bolonha. Embora não ten-do assumido sua cadeira de cátedra, tornou-se formalmente a primeira mulher matemática professora.
  Em 1762, a Universidade de Turin consulta sua opinião sobre um traba-lho de Cálculo das Variações escrito pelo jovem Lagrange. No entanto esses assuntos já não mais a interessavam. Desde 1752, após a morte de seu pai, ela tinha abandonado a Ciência, assumido a vida religiosa que desejara. Não se tor-nou uma freira, mas vivia como uma delas. Fundou uma casa de caridade e de-cidiu viver isolada da família. Fez voto de pobreza, dividiu seus presentes e sua herança com os mais necessitados, e seu único interesse seria dar aulas de Catecismo e cuidar dos pobres e doentes de sua paróquia; trabalho esse que só cessaria com sua morte em 1799 aos 81 anos de idade. Desde da juventude, Agnesi contraiu uma doença, que alguns médicos atribuíram ao excesso de ati-vidade intelectual e da vida sedentária que ela levava.
  Infelizmente Agnesi, que muitos sequer imaginam ser uma mulher, é ape-nas conhecida por uma curva de terceiro grau, que leva seu nome, chamada “Curva de Agnesi”.

Sophie Germain

  Sophie nasceu em uma abastada família francesa, em Paris, Abril de 1776. Seu pai, membro próspero da burguesia, possuía uma imensa biblioteca que lhe proporcionou uma educação de alto nível. Aos treze anos, enquanto na França explodia a Revolução, ela, confinada na biblioteca, dedicava-se a seus estudos. Foi neste período que leu o episódio da morte de Arquimedes que, a-gachado, escrevendo na areia, absorto em seus diagramas, foi morto por um soldado romano.   Daquele dia em diante, Arquimedes tornou-se seu herói e sua biografia deixou a jovem de tal modo fascinada, que ela decidiu dedicar-se a Matemática.
Após tornar-se autodidata em Grego e Latim, estudou os trabalhos de Newton e de Euler, apesar da forte oposição de seus pais. Eles tentaram de tudo para persuadir a filha a não seguir a carreira matemática e ficar estudando até altas horas da noite: tiraram a luz do seu quarto, confiscaram o aquecedor...,
mas nada fê-la mudar de opinião. Sophie persistente, continuava estudando à luz de velas, escondida embaixo dos cobertores. Ela roubava as velas da dis-pensa da família e as usava à noite. Sua determinação entretanto, derrotou a oposição de seus pais que acabaram liberando seu acesso aos livros de Mate-mática da família.
  Mas a biblioteca tornou-se pequena para o seu desejo de aprender. Em 1794, a até hoje célebre, École Polythecnique foi inaugurada em Paris, mas So-phie não pode cursá-la por ser mulher. Mesmo assim, conseguiu umas notas de um curso de Análise que Lagrange acabara de ministrar. Fingindo ser um dos alunos do École, sob o pseudônimo masculino de M. Le Blanc, Sophie submeteu a Lagrange umas notas que tinha escrito sobre Análise. Lagrange ficou de tal modo impressionado com aquele artigo que procurou conhecer seu autor. Após descobrir sua verdadeira autoria, tornou-se a partir daí seu mentor matemático.
  Naquela época, uma maneira que os cientistas tinham de trocar idéias e divulgar suas descobertas era através de cartas, correspondendo-se uns com os outros.
Durante sua vida, Sophie manteve contacto com vários cientistas. Suas correspondência com Legendre foi bastante volumosa e numa segunda edição de seu livro Essai sur le Théorie des Nombres ele incluiu várias descobertas matemáticas de Sophie relatadas em suas cartas.
  Em 1804, após estudar o Disquisitiones Arithmeticae de Gauss, ainda escondida na figura de M. Le Blanc, ela começa a corresponder-se com ele. Em 1807 as tropas de Napoleão invadem Hannover, uma cidade alemã próxima de onde Gauss estava. Temendo pela segurança de Gauss e relembrando o episó-dio da morte de Arquimedes, Sophie consegue com um general que comandava o exército e era amigo da família, que lhe fosse mandado um enviado a fim de manter o gênio matemático a salvo.    Ao chegar até Gauss, o enviado mencionou o nome de Madmoiselle Germain, por intermédio de quem ele estava ali para protegê-lo. Criou-se uma enorme confusão para Gauss, pois seu correspondente francês era o Senhor Le Blanc, não uma mulher, e ele não conhecia nenhuma Madmoiselle Germain. Após toda verdade ser desvendada e os fatos esclareci-dos, Gauss escreve a sua protetora uma carta de agradecimento onde externa seu espanto pela verdadeira identidade “do seu correspondente” e aproveita a oportunidade para elogiar a coragem e o talento de Sophie para estudar Mate-mática.
  Anos mais tarde, Gauss tentou convencer a Universidade de Göttingen a ofertá-la um doutorado honoris causa , mas ela morrera antes que isso pudesse ser realizado.
  Sophie resolveu alguns casos particulares do ‘Último Teorema de Fermat’, donde nasceua definição de “números primos de Sophie Germain” e, em 1816, ganhou um concurso promovido pela Academia de Ciências da França, resol-vendo um problema que foi proposto na época sobre vibrações de membranas. De seus trabalhos e pesquisas nesta área é de onde nasceu o conceito de cur-vatura média de superfícies, conceito este, que é hoje objeto de pesquisa de vários matemáticos na área de Geometria Diferencial. Sobre o trabalho premiado de Sophie, Cauchy escreveu que “ambos, o autor e importância do assunto, merecem atenção dos matemáticos” e Navier ressaltou sobre seu trabalho que “poucos homens podiam ler e apenas uma mulher foi capaz de escre
ver”. Suas idéias sobre elasticidade foram fundamentais na teoria geral da Elas-ticidade criada posteriormente por Fourier, Navier e Cauchy.
  Além de Matemática, Sophie estudou Química, Física, Geografia, História, Psicologia e publicou dois volumes com seus trabalhos filosóficos, um dos quais mereceu o elogio de Auguste Comte.
Ela continuou trabalhando em Matemática e Filosofia até sua morte em 1831.
Embora com algumas falhas matemáticas, devidas talvez a seu autodida-tismo e a seu isolamento do meio acadêmico matemático, Sophie Germain foi sem dúvida, a primeira mulher a fazer um trabalho matemático inédito e de grande importância.

Mary Fairfax Greig Somerville

   Somerville nasceu na Escócia, no ano de 1780 e não teve educação es-colar antes dos dez anos de idade. Foi quando seu pai, vice-almirante da Mari-nha Real Britânica, que vivia viajando e passava longos períodos ausente de ca-sa, retornou do mar e tomou consciência de que sua filha vivia “como uma sel-vagem”: não sabia escrever, lia pessimamente e não conhecia sequer os rudi-mentos básicos de Aritmética.
  Prontamente a menina foi mandada para uma escola onde passou um ano estudando. Foi a única vez durante toda sua longa vida que ela recebeu e-ducação escolar formal. O resultado foi um pouco de gramática francesa e ingle-sa, noções simples de Aritmética, uma caligrafia pobre. Em contrapartida, brota-ram nela uma disposição e uma vontade enorme de aprender. Para a educação tradicional de uma mulher da época, o que ela tinha estudado naquele ano de colégio era mais do que o suficiente, segundo o que a família pensava. Mas ela não se contentou com isso. Por si só, estudou Latim e Grego (o que depois lhe deram possibilidades para ler os livros clássicos científicos) e não perdeu ne-nhuma oportunidade de aprender tudo o que podia.
  Aos treze ou quatorze anos de idade, num chá da tarde com algumas a-migas, quando folheava uma revista de moda feminina, encontrou algumas li-nhas estranhas misturadas com as letras X e Y. Era um problema matemático. Daqueles que freqüentemente apareciam nessas publicações. Curiosa como e-ra, quis saber o que significavam aqueles símbolos. Apenas conseguiu descobrir com uma amiga que se tratava de Álgebra, um certo tipo de Aritmética que usa-va letras ao invés de números. Mas aquela pergunta não saiu da sua cabeça. Nenhum livro em sua casa pôde adicionar nada ao que já tinha descoberto. Ca-sualmente, ouviu falar dos Elementos de Euclides, mas era difícil conseguir um exemplar e nem seria decente para uma mulher chegar numa livraria e comprar um livrode Matemática. Finalmente, por intermédio de seu irmão mais novo, conseguiu um exemplar, não só dos Elementos, mas também da Álgebra de Bonnycastle, livros usados nas escolas em seu tempo. Daí por diante, foi apenas estudar e aprender.
  Numa das vezes que seu pai retornou a sua casa e soube o que Somer-ville estava estudando, ficou furioso. De imediato chamou a esposa e reclamou “precisamos dar um basta nisso ou um dia desses vamos ver Mary vestida num
jaquetão (como um homem)!!”. Tal como ocorrera com Sophie Germain, retira-vam a luz do seu quarto para impedi-la de estudar à noite. O que sem dúvidas, não surtiu efeito algum.
  Incrivelmente, sua liberdade para dedicar-se a Ciência surge com o ca-samento. Aos 24 anos ela casa-se com um primo que, segundo suas palavras, “tinha uma opinião bastante pobre sobre a capacidade feminina e nenhum inte-resse em ciência de qualquer tipo”. Ele morreria três anos mais tarde deixando-lhe um filho, e uma herança, que a permitiu ter uma vida financeira sem preocu-pações, apenas dedicando-se a seus estudos. Oito anos depois, aos 32 anos, ela casa-se novamente com outro primo, Dr. Willem Somerville, que encoraja a sua carreira científica. O Dr. Somerville era médico, e o casal manteve um círcu-lo de amizades bastante admirável que incluía vários cientistas e intelectuais. Essas amizades favoreceram o contacto de Somerville com outros matemáticos que a auxiliaram em sua formação.
  Somerville estudou o Principia de Newton, Astronomia Física e Matemáti-ca Superior. Publicou vários artigos sobre Física experimental e a pedidos de amigos cientistas, traduziu para o Inglês o fabuloso e obscuro tratado de Laplace “Mécanique Céleste”. Ela estava aos 51 anos quando a tradução foi publicada. Esta logo se tornou popular e foi utilizado como livro texto de Astronomia Mate-mática por quase um século, tendo posteriormente várias edições publicadas. Ressalte-se que seu trabalho não foi apenas de tradução, ela clareou e explicou o texto de Laplace. O próprio prefácio de sua tradução, escrito por ela, chegou a ser publicada separadamente com o
título “Uma dissertação preliminar sobre a Mecânica Celeste”, e por si só tornou-se também bastante conhecido e popular.
  Somerville, ao contrário de várias outras matemáticas que a precederam, foi admitida por várias sociedades científicas de vários países. Foi a primeira mulher a ser admitida na Sociedade Real Inglesa de Astronomia. A Sociedade Real Inglesa de Ciências chegou a mandar fazer um busto em sua homenagem e expô-lo no hall do prédio. Entretanto ela nunca pode vê-lo, já que mulheres não podiam entrar no prédio dessa Sociedade!
  Durante grande parte do resto de sua vida, passada na Itália, ela continu-ou produzindo artigos científicos de alto nível. Seu tratado “As conecções com as ciências físicas” foi publicado em 1834 e foi bastante elogiado pelo físico Maxwell, descobridor das leis do Eletromagnetismo. John Couch, o descobridor do planeta Netuno, atribuiu as primeiras noções que ele teve da existência deste planeta, a uma passagem que ele leu na sexta edição do livro de Somerville. Isto representou um dos maiores avanços da Astronomia do século XIX. Seu livro “Geografia Física”, usado nas escolas e universidades pôr mais de 50 anos e que apoiava os geologistas em detrimento aos teólogos, chegou a ser criticado no púlpito da Catedral de York, demonstrando a importância que esse trabalho teve!
  Seus trabalhos científicos não paravam. A idade não lhe era peso. Aos 89 anos publicou“Ciência Molecular e Microscópio”. Nos seus últimos anos de vida, escreveu suas memórias, reviu um manuscrito sobre seu trabalho “Diferenças finitas”, começado a ser escrito aos 40 anos e, quando morreu, aos 92 anos de idade, no dia 29 de Novembro de 1872, um mês apenas antes do seu aniversá-rio, ela estava estudando um artigo sobre os quatérnios, um certo tipo de conjunto o no espaço quadrimensional que aparece na Álgebra.

Pesquisa realizada no site:
http://www.dme.ufcg.edu.br/

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