Artigo de dois pesquisadores russos descreve habilidade do inseto para localizar comida com base em informações numéricas
Marco Túlio Pires

Uma espécie de formiga europeia consegue contar e fazer operações
matemáticas simples. A habilidade, já conhecida de abelhas, pombos,
chimpanzés e golfinhos, foi descrita por uma dupla de pesquisadores
russos em artigo que será publicado no periódico holandês Behaviour.
Zhanna Rezhikova, da Academia Russa de Ciências, e Boris Ryabko, da
Universidade de Telecomunicações e Ciência da Computação da
Sibéria, montaram uma série de experimentos para analisar o
comportamento da Formica polyctena na busca por comida. Os
cientistas construíram um cilindro plástico vazado por 30 pequenos
tubos, enfileirados como se fossem um pente. Em um dos tubos, os
cientistas colocaram uma solução adocicada. Em todos os outros,
colocaram água.
Uma formiga "batedora" era então colocada em frente ao tubo com a
comida e em seguida voltava ao formigueiro para se comunicar com outras
formigas. Ao fim da "conversa", a formiga que já conhecia a estrutura de
plástico era retirada para não influenciar a decisão das
outras. Enquanto isso, os cientistas retiravam o tubo com a comida e o
substituíam por outro com água, para que os insetos fizessem uso apenas
das instruções da formiga "batedora" e não pudessem aproveitar nenhum
outro estímulo visual ou olfativo. Para evitar que as formigas também
seguissem o rastro químico deixado pela colega, o tubo maior também era
trocado.
Os cientistas repetiram esse processo 152 vezes, variando a posição do
tubo com a solução adocicada de diferentes maneiras. Resultado: os
insetos chegaram imediatamente à posição certa em 117 das 152
tentativas. "Isso indica que as formigas conseguem contar e compartilhar
informações que carregam valor numérico entre si", afirmam os autores
no estudo. "Qual tubo elas tinham que ir para pegar comida? O primeiro? O
décimo? É esse o tipo de informação que provavelmente trocavam", disse
Zhanna em entrevista ao site de VEJA. As formigas europeias da pesquisa
conseguiram se virar com até 30 posições no tubo.
Adição e subtração - O estudo mostrou também que as
formigas vão além do simples ato de contar e também sabem fazer
operações aritméticas. Em outro experimento, os pesquisadores variaram
as posições do tubo com a solução adocicada. Algumas das posições foram
escolhidas com mais frequência, de modo a permitir que a formiga
"batedora" fixasse o lugar mais provável de encontrar comida. Toda vez
que a comida aparecia em um lugar próximo à posição mais frequente, as
formigas transmitiam a informação mais rapidamente do que quando
aparecia em lugares mais distantes. "Isso pode significar que as
formigas diziam, por exemplo, vá até a posição 20 — a que teria mais
chances de ter comida — e conte mais três, caso a solução adocicada
estivesse no tubo 23", explicou Zhanna.
Para a especialista, os resultados "mudam dramaticamente a forma como
percebemos a inteligência em organismos vivos no mundo". A abordagem
utilizada no experimento russo, acrescenta, poderia ser testada com
qualquer espécie animal com habilidades sociais, sem a necessidade de
saber a forma como se comunicam.
Pesquisa realizada no site:
http://veja.abril.com.br
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