Seguidores

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Conheça a vida de Alan Turing, matemático considerado o "pai da computação"

Alan Turing, o homem que decifrou os códigos secretos nazistas e lançou as bases para os computadores atuais, enfrentou, ainda jovem, uma castração química


  Ele era franzino, tímido e meio excêntrico. Nunca empunhou uma arma, mas foi um dos personagens mais importantes da 2ª Guerra. Atrás de uma escrivaninha, Alan Turing, considerado o "pai da computação", encontrou a chave para decifrar os códigos usados em mensagens nazistas - e, graças a seu trabalho, os aliados desvendaram cada passo dado pelos inimigos, onde encontrar seus submarinos e até como deveria ser a reação alemã durante o Dia D. O mundo celebra este ano o centenário do cientista.
  A comemoração tem gosto amargo. Turing era homossexual, condição considerada criminosa na Grã-Bretanha até 1967. Condenado, recebeu injeções de hormônios femininos, o que se conhece como castração química. Tinha 41 anos em 1954, quando, transtornado com as alterações em seu corpo e pela realidade em que vivia, deu cabo da vida comendo uma maçã envenenada, tal como Branca de Neve, de quem era fã. Como é possível que tanta gente nunca tenha ouvido falar dele? Uma resposta: o trabalho que o tornou famoso era tão secreto que, por décadas, nem mesmo os familiares dos envolvidos no projeto sabiam o que eles faziam. Outra: ele morreu cedo. A verdade sobre o cientista começou a vir à luz em 1983 com o lançamento de Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges (sem edição no Brasil). "Ele estava lá, no começo da computação, da inteligência artificial e fez um trabalho importantíssimo na 2ª Guerra", diz John Graham Cummings, especialista em computadores, responsável por um abaixo-assinado que resultou no pedido oficial de perdão do primeiro-ministro Gordon Brown, da Grã-Bretanha, em 2009.
Ilustração: Leonardo Freitas

Brown reconheceu a importância do trabalho de Turing durante a guerra e definiu o tratamento a que ele foi submetido de "terrível e desumano".

  Desde pequeno, Turing chamava a atenção pelo talento para a matemática. Logo depois de formar-se em matemática em Cambridge, ele criou a máquina Turing, uma proposta teórica capaz de realizar funções desde que apresentadas por meio de um logaritmo. Já viu isso em algum lugar? Pois é, está na base do seu computador. Turing tinha apenas 24 anos.
  Nos anos 1950, o cientista passou a trabalhar com inteligência artificial e desenvolveu o Teste de Turing para identificar computadores inteligentes. No teste, um examinador conversa por meio de mensagens de texto, simultaneamente, com um computador e uma pessoa. Depois de certo tempo, se não fosse capaz de apontar qual dos dois era humano, a máquina teria passado no teste. (Nos primórdios da internet, o software Eliza usava a mesma base lógica).
  Durante a 2ª Guerra, Turing trabalhou em Bletchley Park (veja ao lado), nos arredores de Londres, onde milhares de pessoas estavam empenhadas no projeto Ultra, cujo objetivo era quebrar os códigos secretos de mensagens criptografadas nazistas. Lá, ganhou fama de excêntrico. Ia ao trabalho de bicicleta usando máscara contra gases. A explicação: na primavera, o ar se enche de partículas de pólen, o que poderia causar alergia. Também gostava de tomar chá, sempre na mesma caneca. E a prendia a uma corrente na calefação do escritório para que ninguém a pegasse. Turing era um fundista. Em algumas ocasiões, ia a Londres, a 64 km de distância, correndo.
  Um dos desafios do Ultra era decodificar as mensagens da máquina alemã Enigma. Era uma máquina de escrever com rotores. À medida que o texto era digitado, os rotores embaralhavam as letras de modo que o conteúdo ficasse incompreensível. A encriptação de mensagens funcionava de maneira similar ao que se usa hoje para transmitir dados bancários pela internet. A única maneira de entender a mensagem recebida é usando a mesma chave da encriptação original. Os rotores permitiam milhões de combinações, e as chaves eram trocadas mensalmente. Turing descobriu o segredo usando uma técnica eletromecânica chamada bomba. As tais bombas permitiam várias análises dos textos, em velocidade muito parecida à dos humanos. Outra contribuição do cientista foi o desenvolvimento do Colossus, um precursor dos computadores.
  Em 1942, os ingleses já conseguiam ler 50 mil mensagens por mês, uma por minuto. Foi assim que ficaram sabendo de informações cruciais sobre os ataques planejados pelos alemães, principalmente no Atlântico Norte. Quando a guerra acabou, Turing foi trabalhar no Laboratório Nacional de Física. Ninguém ficou sabendo da importância da sua participação na quebra dos códigos da Enigma.
  A carreira de Turing sofreu um abalo quando, em 1952, foi condenado por manter relações sexuais com outro homem, crime de "indecência pesada" na época. Entre as opções de punição, cadeia ou "castração química", escolheu a segunda, que supostamente acabaria com sua libido. Como criminoso fichado, Turing não podia mais trabalhar em projetos do governo. Além disso, as injeções o deixaram tão perturbado que ele não viu outra opção além do suicídio. A campanha pelo pedido de desculpas reuniu 32 mil assinaturas.

Bletchley Park

  Se fosse preciso escolher um único lugar absolutamente crucial para o desfecho da 2ª Guerra, seria Bletchley Park. Nessa propriedade do século 19 no countryside inglês, uma equipe formada por campeões de xadrez, matemáticos, especialistas em palavras cruzadas e linguistas conseguiu quebrar o código secreto utilizado pelos alemães em suas comunicações, permitindo, de acordo com o primeiro-ministro inglês da época, Winston Churchill, reduzir a duração do conflito em dois anos. Em 1938, os prédios e mansões que formam Bletchley Park estavam prestes a ser demolidos quando o governo decidiu que ali era o lugar ideal para estabelecer o projeto Ultra. No ano seguinte, o time foi chegando à mansão com a desculpa de participar de caçadas no grupo de certo capitão Ridley, o oficial do serviço secreto britânico responsável pela transferência da equipe.
  Em Bletchley Park ficava a Estação X, uma estação de rádio dedicada a interceptar as comunicações do inimigo. O "X" identificava a décima estação da série espalhada pelo país.
O número de envolvidos no Ultra chegou a 12 mil. Depois do fim da guerra, foi decidido que todas as atividades que ocorreram no local deveriam se manter secretas. O mundo vivia a Guerra Fria. Para evitar que informações caíssem em mãos dos soviéticos, Churchill mandou destruir todos os documentos do projeto Ultra. Os prédios passaram a servir para outros propósitos, como treinamento de professores e funcionários dos correios. Os esforços de guerra foram esquecidos... até 1974. Nesse ano, Frederick W. Winterbotham, que havia trabalhado em Bletchley Park, publicou, pela primeira vez e em detalhes, a história do que havia acontecido ali, durante a guerra, no livro The Ultra Secret. Autointitulado "o segredo mais bem guardado do Reino Unido", Bletchley Park hoje recebe visitas de gente que quer ver onde um bando de nerds mudou o destino do mundo - mas não contou nada a ninguém, por décadas. Ou, nas palavras de Churchill, as pessoas que trabalharam lá eram "as galinhas que botavam os ovos de ouro, mas que nunca cacarejavam".

 FILME

Breaking the Code, 1996, direção de Herbert Wise

LIVRO
Alan Turing: The Enigma, Andrew Hodges, 1983


Pesquisa realizada no site:
  http://guiadoestudante.abril.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário