Em recente pesquisa dos professores Hélio Rosetti Júnior e Juliano Schimiguel, do programa de Mestrado e Doutorado da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), constatou-se que o ensino de matemática financeira pode ser muito enriquecido com elementos da história da matemática e do dinheiro.
Na educação matemática no Ensino Fundamental, Médio e Técnico, os
conhecimentos de Matemática Comercial e Financeira são importante fator
de promoção da cidadania e de entendimento do mundo econômico. Esses
conhecimentos podem ser trabalhados no contexto das salas-de-aula
levando-se em conta a evolução histórica dessa área da matemática,
visando o posicionamento pessoal nas questões de finanças e um
referencial no tempo das operações matemáticas.
O ensino e uso dos modelos matemáticos e financeiros em sala de aula
devem estar em consonância com as necessidades, os interesses e as
experiências de vida dos alunos. As fórmulas prontas e os modelos
acabados, com poucos atrativos para os educandos, devem ceder lugar aos
modelos construídos a partir de suas vivências, na busca de soluções dos
problemas que fazem parte de suas relações na sociedade. Uma educação
que possibilitasse ao homem a discussão corajosa de sua problemática. De
sua inserção nesta problemática.
Dessa forma, a matemática deve ser trabalhada de forma significativa,
problematizadora da realidade e aplicada, conforme os Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCN.
Uma das formas significativas para dominar a Matemática é entendê-la
aplicada na análise de índices econômicos e estatísticos, nas projeções
políticas ou na estimativa da taxa de juros, associada a todos os
significados pessoais, políticos e sociais que números dessa natureza
carregam.
A matemática comercial e financeira não é nova. Suas aplicações
remontam de períodos anteriores a Cristo. A própria Bíblia Sagrada traz
referências de juros e de aplicações financeiras. Seus cálculos também
remontam de tempos antigos.
A matemática financeira tem sua evolução relacionada com a origem do
dinheiro e seus desdobramentos até os dias de hoje. Pensar na matemática
financeira atual significa levar em conta a longa experiência
financeira e quantitativa do homem ao longo de sua evolução na
civilização, com diversas formas de moedas e papéis.
De acordo com o Assaf Neto, a Matemática Comercial e Financeira
cuida, fundamentalmente, do estudo do valor do dinheiro num intervalo de
tempo determinado e seus cálculos. Assim, receber uma quantia hoje ou
receber no futuro não são efetivamente a mesma coisa.
Conforme o Banco Central Brasileiro, os cálculos financeiros vêm das
relações com as moedas nas transações econômicas. A moeda e o dinheiro,
como hoje conhecemos e calculamos, são o resultado de uma longa
evolução. No início não havia moeda. Praticava-se o escambo, uma simples
troca de mercadoria por mercadoria, praticamente sem a equivalência de
valor. Algumas mercadorias, pela sua utilidade, passaram a serem mais
requeridas do que outras. Demandadas por todos, assumiram a finalidade
de moeda, circulando como elemento trocado com diversos produtos e
servindo para avaliar-lhes o valor. Quando a civilização descobriu o uso
do metal, logo passou a utilizá-lo para fabricação dos seus utensílios e
armas, anteriormente feitos com pedra. Surgem, então, no século VII
a.C., as primeiras moedas com características das atuais: são pequenas
peças de metal com peso e valor definidos e com a impressão do cunho
oficial, ou seja, a marca de quem as emitiu e garante o seu valor.
Com o advento do papel-moeda a cunhagem de moedas metálicas ficou
aplicada a valores inferiores, necessários para operações de troco.
Dentro desta nova função, a durabilidade passou a ser a qualidade mais
necessária à moeda. Surgem, em grande diversidade, as ligas modernas,
produzidas para suportar a alta rotatividade do numerário de troco.
O conceito, o cálculo e o entendimento de juros são antigos, de
acordo com os registros históricos. Essa conceituação apareceu quando o
homem percebeu a relação entre o tempo e o dinheiro e seus reflexos na
vida das pessoas e povos.
Nos livros do Velho Testamento, na Bíblia, dentre as várias
referências sobre juros nos textos sagrados, podemos citar em Êxodo,
capítulo 22, versículo 25, "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao
pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor; não lhe
imporás juros". Em Levítico, capítulo 25, versículo 37, "Não lhe darás
teu dinheiro a juros, nem os teus víveres por lucro". Nos livros do Novo
Testamento também encontramos referências a aplicações financeiras,
como em Mateus, capítulo 25, versículo 27, "Devias então entregar o meu
dinheiro aos banqueiros e, vindo eu, tê-lo-ia recebido com juros".
Os processos de acúmulo de capital e a desvalorização da moeda
resultaram também na idéia dos juros, uma vez que se realizavam
efetivamente devido ao valor temporal do dinheiro. Registros antigos
mostram que já existiam textos remotos que tratavam da distribuição de
produtos agrícolas e de cálculos aritméticos baseados nessas transações.
Os Sumérios já utilizavam, adaptados à época, tipos de contratos
legais, faturas, recibos, notas promissórias, crédito, juros e
escrituras de venda.
Nos registros antigos, os juros eram calculados numericamente e pagos
com uso de sementes ou de outros itens emprestados. Muitas das práticas
atuais tiveram origem nos antigos costumes de empréstimo e devolução de
sementes e de outros produtos da agricultura, base da civilização
atual.
A História também revela que a idéia se tinha tornado tão bem
estabelecida que já existia uma firma de banqueiros internacionais em
575 aC, com os escritórios centrais na Babilônia. Sua renda era
proveniente das altas taxas de juros cobradas pelo uso de seu dinheiro
para o financiamento do comércio internacional. O juro não é apenas uma
das nossas mais antigas aplicações da Matemática Financeira e Economia,
mas também seus usos sofreram poucas mudanças através dos tempos.
No Brasil, no início do período colonial, o meio circulante foi sendo
formado sem ordenação, com as moedas trazidas pelos colonizadores,
invasores e corsários que comercializavam no litoral brasileiro. Dessa
forma, ao lado das moedas portuguesas, circularam também moedas das mais
diversas nacionalidades, cuja equivalência era estabelecida em função
do seu valor intrínseco (conteúdo metálico). Em algumas ocasiões, o uso
de mercadorias como moeda obedeceu a determinações legais.
A partir de 1580, com a formação da União Ibérica, verificou-se uma
afluência muito grande de moedas de prata espanholas (Reales),
provenientes do Peru, graças ao crescente comércio que se desenvolveu
por meio do Rio da Prata. Até o final do século XVII, os Reales
espanhóis constituíram a parcela mais significativa do dinheiro em
circulação no Brasil. Em 1614, o Governador do Rio de Janeiro
estabeleceu que o açúcar corresse como moeda legal, ordenando que os
comerciantes o aceitassem e calculassem obrigatoriamente como pagamento.
Nas duas últimas décadas do século XVII agravou-se a situação de
carência de moeda no Brasil, comprometendo o funcionamento da economia e
provocando drástica diminuição nas rendas da Coroa. Inúmeras
representações, pedindo uma resolução para o problema, foram
encaminhadas ao rei pelos governadores gerais e das capitanias,
representantes das câmaras e membros da igreja e da nobreza. Por fim, em
1694, D. Pedro II (1667-1706) resolveu criar uma casa da moeda na
Bahia, para a cunhagem de moeda provincial para o Brasil.
Embora, hoje, o modelo circular seja adotado em quase todo o mundo,
curiosamente já existiram moedas ovais, quadradas, poligonais etc.
Foram, também, cunhadas em materiais não metálicos diversos, como
madeira, couro e até porcelana. Moedas de porcelana circularam, neste
século, na Alemanha, quando, por causa da guerra, este país enfrentava
grave crise econômica.
Quanto à forma geométrica dos papéis, as cédulas, confeccionadas em
papel, geralmente se apresentam na forma retangular e no sentido
horizontal, com grande variedade de tamanhos. Existem, ainda, cédulas
quadradas e até as que têm suas inscrições no sentido vertical.
Palavras e moedas têm algo comum: dependem de consenso e só circulam
onde são conhecidas. Uma moeda de valor ignorado é tão inútil quanto uma
palavra de valor obscuro. O dinheiro, no formato e estilo em que se
apresente, não tem valor por si, mas pelas mercadorias, cálculos,
contagens e serviços que pode adquirir.
Entender e saber o significado quantitativo disso tem grande
importância para o estudo da Matemática Comercial e Financeira e na
história da matemática, com grande valor para os estudantes e o processo
educacional.
Assim, o dinheiro é uma espécie de título que fornece a seu portador a
capacidade de se considerar credor da sociedade e de usufruir, através
do poder de compra, de todas as conquistas modernas do homem em
sociedade. Essa capacidade de aquisição pode ser quantificada, analisada
e calculada em detalhes, com desdobramentos na sociedade. A moeda não
foi, dessa maneira, criativamente inventada, mas apareceu de uma demanda
e sua evolução espelha, em cada tempo, a necessidade do homem de
adequar seu instrumento monetário à realidade de sua economia e contexto
social.
Apreender o sentido dos conteúdos de ensino implica conhecê-los como
conhecimentos construídos historicamente e que se constituem, para o
trabalhador, em pressupostos a partir dos quais se podem construir novos
conhecimentos no processo de investigação e compreensão do real.
A Educação Matemática Comercial e Financeira deve levar em conta essa
evolução prática do dinheiro, das moedas, das relações comerciais na
sociedade, do poder de compra do cidadão para trabalhar modelos
matemáticos que contemplem as necessidades concretas dos alunos e das
unidades escolares.
Paulo Freire ressalta que: "de teoria, na verdade, precisamos nós. De
teoria que implica numa inserção na realidade, num contato analítico
com o existente, para comprová-lo, para vivê-lo e vivê-lo plenamente,
praticamente".
No Ensino Fundamental e Médio, assim como no ensino
profissionalizante, esses dados históricos devem ser observados nas
experiências matemáticas concretas na escola e em sala de aula, na busca
de uma formação matemática financeira completa e epistemologicamente
vinculada à evolução do pensamento numérico/financeiro. Experiências
práticas com moedas e papeis de valor, no cotidiano da comunidade
escolar, merecem fazer parte das estratégias de educação matemática, em
substituição aos exercícios diretos e aos testes desconectados do
ambiente histórico.
Dessa maneira, o trabalho educacional com a Matemática Financeira
poderá caminhar para uma relação mais lúdica, prazerosa e edificante com
os alunos, na perspectiva de construção plena da cidadania na vida
comunitária.
Pesquisa realizada no site:
http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-historia-do-dinheiro-e-a-educacao-matematica-financeira/51112/
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