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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Todo mundo é bom em matemática

Já nascemos com um senso numérico. O que atrapalha é o jeito que as escolas ensinam a disciplina

  Se for como a maioria das pessoas, será óbvio para você o que significa fazer matemática. Ainda que seja pressionado a dar uma definição precisa, responderá com uma ideia geral do que o tema envolve: números, aritmética, álgebra, equações, geometria, problemas sobre trens que deixam estações, teoremas. Você não terá nenhuma dificuldade em dizer se é bom nisso (a resposta geralmente é “não” ou, às vezes, “não muito”) ou se gosta do assunto.
  Mas essa visão da matemática é extremamente empobrecida e não representa a disciplina em si. Os números constituem apenas parte de um tipo particular de matemática e, na verdade, não é com cálculos aritméticos que a maioria dos matemáticos gasta a maior parte do tempo. A matemática natural realizada por seres vivos de outras espécies também não se restringe a números e aritmética. Ela trata de padrões. E é de padrões que a vida é feita.
  Os seres humanos nascem (ou adquirem logo depois do nascimento) com um senso de número que lhes permite distinguir 1, 2 ou 3 objetos ou sons. Aos 4 meses são capazes de saber (talvez inconscientemente) que, quando se juntam dois objetos isolados, o resultado é um conjunto de 2 objetos, não 1, nem 3. Sabem que quando retiramos um objeto de um conjunto de 2, o que sobra é um objeto, não 2, tampouco nenhum.
  O problema não está no fato de as pessoas não conseguirem usar matemática. Na verdade, elas não conseguem usar matemática escolar, uma vez que ela é abstrata. O que a evidência mostra é que se nós quisermos aumentar a probabilidade de aprender a disciplina, precisaremos avaliar a forma e o contexto no qual ela é apresentada. O grau de sucesso de uma pessoa no domínio da matemática escolar dependerá, em grande parte, de quanto significado ela conseguirá atribuir aos símbolos e às operações efetuadas com eles.
  O cérebro humano evoluiu como um dispositivo de busca de significado. Nós vemos e buscamos significado em toda parte. Um computador pode ser programado para seguir regras sem ter nenhuma compreensão de seu significado. Mas as pessoas não são assim. Com esforço considerável, podemos aprender tabuadas e treinar para seguir um pequeno número de procedimentos aritméticos. Mas mesmo aí o significado é a chave. É duvidoso que até mesmo o cérebro humano seja capaz de efetuar uma operação desprovida de sentido. A matemática de rua trata exatamente da execução de operações com significados enquanto a matemática escolar trata simplesmente das manipulações formais de símbolos cujos significados, quando existem, não estão representados nos símbolos. Para a maioria das pessoas, R$ 27,99 significa algo. Mas 27,99, não. É só um número.
  Trabalhar com aritmética escolar não envolve procedimentos mais difíceis do que podemos ver em uma criança de 9 anos de idade, precariamente instruída, numa barraca de feira. A única diferença é o grau de significado envolvido. Uma vez que apreendemos o significado, a matemática escolar fica muito mais fácil.

Keith Devlin é professor do departamento de Matemática da Universidade de Stanford e autor de O Instinto Matemático, da Editora Record


Pesquisa realizada no site:

http://revistagalileu.globo.com

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